Desde muito cedo aprendi a gostar de cemitérios. Para mim eles nunca significaram tristeza e sim paz, um espaço propício para reflexões pesadas, um lugar que possibilita, além da tentativa de compreender a morte, distância dos vivos. Um local destinado aos vivos como refúgio solitário para o ensimesmamento necessário de tempos em tempos.
E a necrópole francesa du Père Lachaise é o local perfeito para caminhadas à esmo numa tentativa, já sabida, vã de amenizar a sensação recorrente de completo perdimento numa existência que deveria ser confortável, pois pode ser a única.
E a necrópole francesa du Père Lachaise é o local perfeito para caminhadas à esmo numa tentativa, já sabida, vã de amenizar a sensação recorrente de completo perdimento numa existência que deveria ser confortável, pois pode ser a única.
Diferente de outros abrigadores de humanos inativos, onde é possível quase ignorar este plano, o Cemitério de Père Lachaise é movimentado. A maioria dos transeuntes é formada por turistas curiosos, ansiosos por encontrar a sepultura de algum preferido ilustre entre tantos que ali descansam. Lembrando-me de conselhos de vó acerca de nossa presença em túmulos de entes queridos dirigi-me, como boa turista, à procura de Honoré de Balzac, Molière, Marcel Proust, Oscar Wilde, Gertrude Stein e até Camille Pissaro, na esperança que eles soubessem da minha existência e admiração aos mesmos, além de assim sentir-me mais próxima da Paris que eles viveram.
Há bancos por todo o cemitério, comodidade para aqueles que pretendem interromper o passeio e descansar o corpo enquanto a mente não para. Preferi um degrau de escada, sentei, observei meu entorno com grande atenção, procurando apreender os mínimos detalhes, sentir o lugar minuciosamente e eis que minha mente inquieta traz à tona sequência de questões nunca respondidas: Onde estarão os que partiram deste plano?! Como estarão?! Ainda existem?! Reencontraremos aqueles que desejamos?! Ali permaneci alguns longos minutos e como não consegui elucidar o mistério da morte, abandonei a reflexão e prossegui.
Encontrando corvos aqui e ali segui por entre túmulos desconhecidos, executando pequenas pausas naqueles conhecidos, durante uma manhã inteirinha. Aproximadamente quatro horas foram utilizadas na excursão pelo primeiro cemitério europeu visitado, cujo término levou ao desejo de conhecer os outros grandes cemitérios parisienses, no entanto essa empreitada ficará para um retorno desejado para breve.
Eu também gosto de cemitérios. Lugares silenciosos, me utilizando da frase de Levi-Strauss, "bons para pensar".
ResponderExcluirbons para pensar, e observar!!!!
ResponderExcluir