terça-feira, 31 de maio de 2011

FORA DE LINHA

Hoje era dia de passeio, fomos visitar o Museu de Objetos da Humanidade. Saimos cedo do colégio acompanhados de um vento cortante, colegas tagarelas como sempre e de uma professora com cara de "pouco amiga". O percurso não foi demorado, mas suficiente para especular sobre o que veríamos.




Entretanto nenhuma cogitação chegou perto do que o museu guardava. O objeto que mais me chamou a atenção foi o que os antigos chamavam de cinzeiro. O guia explicou que tal objeto era utilizado para jogar a cinza de uma droga chamada cigarro. Tive grande dificuldade em compreender, pois realmente eu não tinha a mínima ideia do que fosse um cigarro, cinzeiro ou fumante! O guia então calmamente explicou que o tal cigarro era basicamente uma quantia de uma planta chamada fumo, enrolado em papel e fumante era o consumidor dessa droga. Achei tão estranho! As pessoas daquele tempo acendiam o tal cigarro, inalavam a fumaça levando-a até o pulmão, após alguns segundos expeliam-na e assim faziam repetidas vezes até restar o que chamavam de "bituca". O mais impressionante é que até lei antifumo existia, pois o hábito era extremamente nocivo e ainda assim as pessoas fumavam.

 


Mais confuso ainda foi ver um cinzeiro de cristal, pois brilho e transparência não combinam com hábito tão nocivo. De fato, certas coisas só dá para acreditar após conhecer!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

EXCESSO DE OTIMISMO

Acordei exatamente na hora!
Levantei com o frio e a cerração
Num dia rotineiramente curitibano.

Gostaria de dormir mais 12 horas,
Entretanto era segunda-feira.
Então fiz mingau, mingau cor de rosa para colorir meu café e quem sabe a vida...


sábado, 28 de maio de 2011

COM PÉ E CABEÇA

Até aquela fatídica sexta-feira 13 as anteriores sempre foram apenas mais um sexto dia da semana para Verônica. Ainda que o noticiário da manhã tenha lembrado-lhe do alto teor supersticioso de tal dia e alguns colegas no trabalho tenham dito-lhe para evitar encontrar gato preto naquele dia, ela apenas rira das advertências que ainda lhe pareciam completamente fantasiosas. Entretanto a tarde reservava estranhos acontecimentos que alterariam totalmente sua percepção em torno do azarado dia.
Logo que entrou em seu condomínio encontrou um gato preto andando tranquilamente pela rua interna, como se o mesmo estivesse acostumado ao espaço. Assim que estacionou o carro em frente a sua residência, o gato pulou no capô, causando-lhe enorme susto. Verônica maldisse o gato e ao abrir a porta do carro o gato rapidamente desceu do capô e num zupt instalou-se no banco que ela acabara de ocupar. O gato praticamente voara para dentro tão rápido que mais uma vez assustara-a, provocando novos xingamentos enquanto retirava o bichano do veículo. Por fim, retirou-o, abriu o porta-malas, retirou a torta de ricota que sua mãe encomendara e entrou em sua residência.
Seu almoço transcorreu rotineiramente, muita conversa entre uma mastigação e outra. A sexta-feira 13 já estava esquecida e mal descansara da refeição seguiu para encontrar uma amiga, iriam ao cinema durante a tarde com o propósito de evitar filas e salas cheias nas sessões noturnas. Encontraram-se na bilheteria e esbaforidas seguiram para a sala, como estavam poucos minutos atrasadas chegariam durante a sequencia generosa de trailers. Entraram numa das portas que estavam abertas e tão rápido se acostumaram com a penumbra perceberam que naquela sessão todos usavam óculos e, como o filme delas não era 3D, retornaram tão rápido quanto entraram, haviam errado a sala. Verificaram no ingresso o número da sala e enfim entraram na sala correta.
Mais tarde, enquanto retornava para casa ouviu estranhas batidas vindas do porta-malas. O barulho era pequeno, mas incessante, forçando-lhe a estacionar o carro para verificar. Procurou um local com trânsito calmo, estacionou e desceu para abrir o porta-malas, sem imaginar o que encontraria enclausurado em seu interior. Assim que abriu o porta-malas um corvo saiu apressado e mudo, deixando-a atônita. Verônica respirou fundo, não tentou entender o que um corvo fazia fechado em seu carro numa sexta-feira 13 e seguiu com uma única certeza: alguns dias são bem estranhos.  

sexta-feira, 27 de maio de 2011

CONTINUIDADE

O tempo não muda,
Calo então a dúvida
E escuto, há mudança.

Silenciosa e implacável
Age e cria outra realidade.
Nem azar, nem sorte,
Só o fim de um mundo.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

TERAPIA APÓS O ALMOÇO

O espaço em nada lembrava um consultório, nenhum divã para repousar o corpo enquanto a mente busca o descanso, nenhuma revista do ano anterior para poder relembrar os acontecimentos durante a espera do horário agendado, mas isso estava dentro da normalidade esperada para um banheiro, tudo naturalmente inexistente, exceto a terapia! Ah, ela estava ali, tal qual as duas cubas disputadas por 6 mulheres entre um desabafo e outro.
O tema da quinta-feira era o casamento, a difícil arte de administrar a dualidade enclausurada na unidade. Sujeitos, desejos, histórias e projetos de vida, percepções do mundo, tantas singularidades reunidas numa tentativa de reconstruir o mundo. Frustrações e a dificultosa ruptura.

-Em Curitiba devia existir um Oráculo de Delfos, assim poderíamos obter a resposta absoluta para nossas maiores dúvidas, exclama uma das mulheres.

-Minha mãe não é sacerdotisa de Apolo, mas diz boas verdades e tem insistido para que eu aceite o que a razão tenta mostrar-me, replica uma segunda.

-Hummmmm, não deve ser por acaso que nesse templo há a inscrição "Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo", não acham?!

-Meninas, a realidade não oferece respostas certas, é preciso fazer uso do livre-arbítrio e encarar as consequências, encerra a rápida sessão aquela que aparentava ser a mais experiente de todas.

Assim as seis seletas mulheres trocaram olhares de solidariedade e abandonaram o recinto já exausto de ouví-las.

Mundos existem além da visão, isso é certo...

terça-feira, 24 de maio de 2011

TDAH

Foco! Foco! Ecoava em minha sub-mente enquanto a mente tentava pensar sobre o tema a ser explorado para os ansiosos dedos digitarem as linhas iniciais de um artigo.
Entretanto, com tanta janela por aí, algum pássaro resolveu cantarolar bem próximo da minha! Adeus atenção!
Focalize sua atenção, somente assim você conseguirá elaborar esse artigo ou qualquer outro texto, continuava a sub-mente atuando.
Porém o vizinho resolveu aumentar o volume para toda a quadra ouvir a sua seleção musical! Atenção flutuando!
Foco é o segredo, insistia ela.
Contudo agora é o cachorro alheio que decide exercitar suas cordas vocais e implicar com algum transeunte humano ou animal, além de lembrar ao meu que ele também late! Desatenção!
Ignore o mundo ao seu redor, tentava mais uma vez a sub-mente.
Mas um veículo qualquer passa em alta velocidade na rua principal e leva de carona minha atenção! Melhor esperar o mundo parar, concluo.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

ALIENAÇÃO PARENTAL

-Não seja igual a sua mãe! Comporte-se, Menina! Diziam repetidas vezes, tios, avó e até os primos mais velhos. Embora eu nunca tenha apurado o que eles queriam dizer com tal fala, coisa boa não deveria ser, pois pelo tom utilizado isso estava bem subentendido.
-Passaremos em frente a casa de tua avó, você não quer pedir "louvado" à feiticeira? Exclamavam com tamanho desdém sempre que passávamos pela cidade onde ela morava. Pertencente a uma geração interiorana onde os "causos" eram a atração principal de toda noite, e cujos temas mais aplaudidos eram justamente aqueles em que as feiticeiras ou outra figura misteriosa era a vilã, eu crescia repudiando minha avó materna, e isso sem nunca ela ter sido feiticeira e muito menos ter tido conhecimento da alcunha que lhe conferiam. 
-Cuidado extremo ao retornar da escola, nunca se sabe se tua mãe não estará à espreita para roubar-lhe. Era outra advertência que chegava aos meus ouvidos com frequência, o que impediu-me de ter uma infância tranquila, já que toda vez que eu saia o medo era meu companheiro fiel.   

Sobrevivi, é verdade, porém as sessões de terapia se estenderam por anos, tamanho foi o dano causado pela interferência negativa recebida na infância. Sobrevivi, embora ainda tenha pesadelos tão reais, onde os dias de criança retornam e tudo assombra-me novamente. Sobrevivi para acompanhar a evolução do Direito e a criação de uma lei que zele pela saúde psicológica de toda criança em relação aos próprios parentes, impedindo assim que os mesmos venham a interferir em sua formação psicológica, promovendo ou induzindo repúdio a um dos genitores, avós, tios ou demais parentes ou ainda que prejudiquem o estabelecimento a manutenção de vínculos com estes, como aponta o art. 2o da Lei 12.318/2010 que dispõe sobre a alienação parental.
Esta lei não corrigirá o passado, mas evitará que novas gerações sofram com prática tão desrespeitosa e prejudicial, prática que "fere direito fundamental da criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda", como relata o art. 3o da citada lei. Destarte, essa lei recente promoverá maior consciência em relação ao estrago que a alienação parental acarreta e porventura evitará que os genitores ou parentes interfiram na convivência saudável com ambos. 
Vale ainda lembrar da frase pronta: "esposos e esposas deixam de sê-los, mas filhos e filhas não!"


Texto integral da Lei 12.318/2010:
tp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12318.htm