O vinho a tornava falante, é verdade, entretanto a segunda taça de um Malbec, dessa vez, não causava tagarelice alguma, muito pelo contrário, a deixavam mais e mais introspectiva. Quase uma vida era pensada e por mais que ela buscasse explicações para as últimas frustrações, nada justificava tamanha descompostura dos considerados amigos. Decepcionante ainda era a época do ano usada para tal constatação: dias entre Natal e Ano Novo! Período extremamente reflexivo sem motivos, agora consumia toda e qualquer atenção com o mundo, tudo estava voltado para a compreensão do inexplicável. Antes assim, tagarelar quando se está só é no mínimo estranho.
“Como pode tamanha insensatez se nos conhecemos desde sempre?”; “Será que ela desconhece o sentido de consideração?” e “Por que as pessoas não agem como esperamos?” eram alguns de seus pensamentos, estes sim ainda mais estimulados com a ação do álcool. Perguntas que permaneciam à procura de respostas enquanto os últimos meses eram lembrados. Quando criança ela ouvira comentários acerca do difícil e até mesmo impossível convívio com os semelhantes, no entanto isso ocorrera como transferência de experiência, fato que algum tempo depois ela própria pode sentir e compreender. Conviver pode ser imensamente complicado e o pior é que nem a maturidade pode amenizar a empreitada.
“Apenas não consigo processar o motivo de tamanha intromissão em minha vida!”; “Quer dizer, claro que ela poderia se intrometer, desde que o fizesse de forma transparente e conversando com a maior interessada na história: eu!”; “Eu esperava apenas coerência, já que ela de fato se preocupa comigo...” e mais uma sequência de indagações aumentavam enquanto sorvia o anestesiante vinho.
As horas ficaram lentas, o líquido contido numa meia garrafa fora consumido e, após acalentar tantos pensamentos revoltados, ela enfim decidira deletar meia dúzia de pessoas e propiciar a convivência com aquelas que não estão por perto por puro interesse, mas sim porque há amizade de verdade dia após dia e além! Propiciar novos sabores para o mau gosto proporcionado, não pelo extraordinário Malbec, mas pela conversa azeda de uns e outros.
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ResponderExcluirNada como um bom Malbec como analista!!
ResponderExcluirMesmo que a reação possa ser o silêncio.
Sou apenas contrário a idéia de que; "tagarelar quando se está só é no mínimo estranho." Isto é ótimo faço sempre.
Bjos
puxa, vc é especial mesmo heim!!!!
ResponderExcluiras minhas reflexões eu faço com um marmitex!!!!!